Há cerca de quinze anos, alguns colegas da nossa Sociedade, coordenados por Maria Bernadete Amêndola C. de Assis e Lia F. C. Falsarella, iniciaram o Projeto das Bienais, com a proposta de dialogar e transitar por outras áreas do conhecimento, ampliando horizontes e possibilitando desenvolvimento. A cada evento, fomos desbravando novos espaços e encontrando ressonâncias e enriquecimento.
No final do ano passado, recebi um convite para coordenar a Comissão Cultural da VI Bienal de Psicanálise e Cultura da SBPRP, feito pela coordenadora geral do evento, Andréa Ciciarelli P. Lima. Fiquei extremamente feliz e, confesso, ao mesmo tempo com um “frio na barriga”, pois já tendo acompanhado, em outros momentos, os preparativos deste evento, sabia do grande desafio que teria pela frente. Quando cheguei, o barco já estava navegando, ainda bem perto da margem, mas já havia saído do porto. Sabia que tinha muito a aprender/apreender e, assim, resolvi aceitar o desafio. Nadei bem forte e consegui acompanhá-lo, sentindo-me tão acolhida pelas colegas, que me receberam com muito carinho.
Desde o início, percebi uma grande sintonia nas propostas, funcionamentos, pensamentos e sentimentos. Era fácil concordar e embarcar nos sonhos, muitas vezes sonhados em conjunto. Foram muitas reuniões, encontros em sorveterias, cafés… Gradativamente, fomos construindo um verdadeiro grupo de trabalho, buscando desenvolver um formato menos convencional e mais dinâmico, onde as comissões Científica e Cultural se entrelaçavam e complementavam em harmonia, facilitando o diálogo entre a aquisição do conhecimento científico e da experiência emocional.
Desejávamos, fortemente, construir algo que fosse além do entretenimento e proporcionasse verdadeiras experiências emocionais e estéticas. Foram muitas trocas, leituras de livros, textos, contato com autores, participação em espetáculos, podcasts, atividades culturais que se misturavam às atividades científicas. Muitos caminhos foram trilhados até chegarmos ao tema da nossa Bienal:
“Humanidades Possíveis”.
O que pensar da nossa Humanidade, Desumanidade, In-humanidade?
Como lidar com a nossa destrutividade x criatividade?
Inspiradas no diálogo entre Freud e Einstein, “Porque a Guerra”, nos debruçamos sobre esse tema, tão atual e urgente nos dias de hoje. Vivemos em tempos de guerra, não apenas concretamente. Nos deparamos com essa realidade, observando e vivenciando o uso de armas invisíveis e muito potentes, que vem sendo usadas massivamente, para destruir nossa capacidade de pensar criativamente. Me refiro ao uso das Fake News, Deepfakes, etc., que disseminam conteúdos falsos em ampla escala nas redes sociais, incitando o preconceito, o ódio e a violência, nos distanciando da verdade e do contato com a realidade.
Através de Experiências Estéticas, geradas a partir da intersecção da Psicanálise e da Cultura, pretendemos propiciar uma imersão em direção aos mais profundos sentimentos e dessa forma abrir caminho para o despertar de um pensar criativo e consequente desenvolvimento emocional.
Marta Dominguez Sotelino
Coordenadora da Comissão Cultural da VI Bienal de Psicanálise e Cultura da SBPRP